Visita ao Centro de Montevidéu com Colegas Brasileiros
Visita ao Centro de Montevidéu com Colegas Brasileiros.

Recentemente fui agraciado com a oportunidade de passar duas semanas no Uruguai no Insights Lab, um evento organizado pelo Instituto Roche para reunir pesquisadores das áreas biológicas, análise de dados e matemática de maneira focada em desafios para a geração de ideias com base em datasets fornecidos pela Roche ou trazidos pelos pesquisadores.

O evento já ocorreu em anos anteriores na Suíça, França e, agora no Uruguai. Participaram pesquisadores em diversos níveis, de alunos de pós-graduação a profissionais já consagrados da Argentina, Brasil, Uruguai, Suécia e França em alguns desafios pré-determinados ao longo de duas semanas em Montevidéu e Punta del Este. Entre sessões de palestras, pesquisa e recreação, é necessário reconhecer que, de fato, formou-se ali um ambiente muito agradável não apenas para realizar análises, mas também para interagir com pessoas em um ambiente onde a hierarquia pareceu muito mais fluida do que em um ambiente corporativo ou acadêmico regular.

Um ponto importantíssimo a destacar o cenário nascente no Brasil da ascensão de instituições fora das universidades e institutos de pesquisa estatais que contam com pesquisadores de ponta em seu staff ou os apoiam por meio de grants, como o Serrapilheira e o Instituto Dor (iDOR). A seleção e o apoio para deslocamento e demais despesas dos pesquisadores brasileiros foi feito pelo Instituto Serrapilheira, cuja presença no evento foi representada pelo gestor na diretoria de ciência Kléber Neves. Essa foi minha primeira interação com o instituto e, novamente, sou obrigado a admitir: a partir do momento que fui selecionado para participar do camp, foi muito fácil receber o apoio. Não precisei me preocupar com prestação de contas, passagens, deslocamentos e demais procedimentos que não fazem parte dos motivos pelos quais fui selecionado, mas que costumam tomar muito tempo e energia dos pesquisadores nessas ocasiões. Um fluxo burocrático sem atrito que nos deixou, de fato, mais livres para fazermos aquilo que nos interessava como pesquisadores. Fica claro algo que tenho notado há algum tempo e que se consolida nas minhas ideias: o avanço das instituições privadas no cenário brasileiro de pesquisa, em especial biomédica, cresce e já modifica o horizonte de atuação dos profissionais que querem seguir realizando pesquisa. O que sairá disso nas várias dimensões que isso afeta é algo que iremos acompanhar daqui para frente.

Por fim, claro, a presença de pesquisadores brasileiros de diversas universidades e institutos de pesquisa já consagrados: USP, UFRN, UFABC, INCA, UNICAMP, UFSC, Albert Einstein, Sírio Libanês e etc. Novos e velhos amigos que construíram uma ótima experiência de pesquisa nesse evento.


O traje do dia era Smart Casual. Creio que que acertei
O traje do dia era Smart Casual. Creio que que acertei.

Pré-Camp e Research Camp

O evento se constituiu em uma semana de palestras e sessões práticas na sede da Roche Uruguai em Montevidéu. Utilizando parte da estrutura computacional da empresa, pudemos ter acesso a datasets de teste trazidos pelos pesquisadores ou de propriedade da empresa para experimentar. Os assuntos variaram e não posso dar muitos detalhes devido à sensibilidade dos dados e políticas de privacidade, mas envolveram áreas novas para mim até então: single cell, proteômica, análises espaciais, Federated Learning/Analysis (com a participação da empresa DNAstack) e outros.

Poder interagir de maneira rápida e assessorada em tantas áreas distintas foi muito positivo. Fazia algum tempo que não presenciava um ambiente que propiciasse de fato a colaboração para o aprendizado, aproveitando a presença de tantas pessoas talentosas em um mesmo ambiente. Pessoalmente, poder contar com o talentosíssimo amigo João Victor Ferreira Cavalcante, aluno do consagrado Rodrigo Dalmolin, para consultas foi algo que me beneficiou demais em termos de discussão dos novos conceitos apresentados.

Apesar da óbvia utilidade do Pré-Camp em apresentar dados e metodologias, sem dúvidas o maior benefício da semana foi a integração entre os participantes. Ainda que nem todos estivessem presentes, poder integrar-se com novos colegas mostrou-se essencial para o rápido avanço sobre os dados na semana que se seguiu.

O Research Camp propriamente dito ocorreu entre os dias 04/03 e 10/03, no resort Solanas, em Punta del Este. Poder realizar seu trabalho em um lugar confortável e agradável, contando com um eventual banho de piscina após o expediente, com certeza foi um impulso de moral no time em meio ao desafio de encarar novas tecnologias e um conjunto de dados com os quais não estávamos familiarizados.

Foram cinco dias INTENSOS trabalhando com os dados, com desafios que não poderíamos ter previsto. Não fosse o apoio de Heather Ward, Miro Cupak (DNAstack), Benilton Carvalho (UNICAMP), Larissa Hartle (iDOR), João Cavalcante (UFRN), Fernanda Bueno (iDOR) e demais pesquisadores do grupo, não seria possível lidar com o desafio proposto.

O evento como um todo foi uma ótima surpresa mas é sempre agridoce ficar afastado de casa e das pessoas que amo por um período maior. “Vale a pena” não é sequer um bom termo para isso, mas com certeza foi um tempo muito bem aproveitado. Mais uma vez, tenho a sorte de estar cercado de pessoas melhores que eu em tantos aspectos que não há outro caminho senão aprender com eles. Os uruguaios são, como todos os latino-americanos, muito amáveis e colaborativos: Joaquim, Maurício, Inácio, Sophia, Guillermo e tantos outros, obrigado por nos receber com tanto carinho e camaradagem. A equipe do Instituto Roche, representada por Magnus Fontes, soube conduzir muito bem o evento e construir um ambiente para algo que, dentro dos diversos grupos dos quais participo, propagandeio: ciência divertida. Algo que, pelas mais diversas circunstâncias, acabamos deixando de lado e sua falta está tirando da academia basicamente sua única vantagem como espaço alternativo de trabalho nos dias de hoje. Há muitas reflexões que surgem a partir desse evento, mas pretendo encarar isso em outros posts.

Por fim, meu agradecimento pessoal ao colega e amigo Tiago Lubiana, que me abriu a possibilidade de submeter à avaliação e acabar por ser selecionado, e ao Instituto Serrapilheira pelo financiamento e apoio institucional nesse evento.


*minha habilidade de lembrar nomes é péssima e eu sei, factualmente, que esqueci o nome de pessoas queridas que também participaram. Caso seja o caso, por favor, entre em contato que atualizarei o post